sábado, 9 de junio de 2012

A Insatisfação da Vida e o Seu Remédio



J. Hudson Taylor

Unir-se a Cristo e permanecer em Cristo – o que isso nos assegura? Paz, perfeita paz; descanso, repouso constante; respostas a todas as nossas orações; vitória sobre todos os nossos inimigos; uma vida pura e santa; e a capacidade cada vez maior de dar frutos.Tudo isso é o resultado maravilhoso de permanecer em Cristo...
 Mesmo assim, muita gente do povo de Deus não conhece o repouso nem a alegria de permanecer em Cristo; não sabe como obtê-lo nem por que ainda não o possui. Não são poucos os que se lembram das delícias dos primeiros dias, mas que, longe de prosseguirem para descobrir herança ainda maior em Cristo, estão perfeitamente conscientes de que perderam o seu primeiro amor. Tudo que lhes ficou foi um lamento queixoso: “Onde está aquela bem-aventurança que senti quando encontrei o Senhor pela primeira vez?”
 Há outros que, mesmo não tendo perdido o primeiro amor, sentem que as interrupções ocasionais à sua comunhão com o Senhor estão se tornando mais e mais insuportáveis, à medida que o mundo se lhes torna menos importante e a presença de Jesus mais indispensável. A ausência dele é causa de uma angústia que cresce mais a cada dia.
 “Ah! se eu soubesse onde o poderia achar!” (Jó 23.3). “Beija-me com os beijos de tua boca; porque melhor é o teu amor do que o vinho” (Ct 1.2). Você diz: “Quisera que o seu amor fosse constante e forte como o meu, e que ele nunca retirasse de diante de mim o brilho de sua face!”
 Pobre equivocado! Existe um amor muito mais forte do que o seu esperando-o, um amor que anseia por satisfazer-se. O Noivo é que está esperando por você; os empecilhos à sua aproximação são todos do seu lado. É só tomar o seu devido lugar, e você verá como ele terá prazer, como está ansioso por satisfazer seus desejos mais profundos e suprir todas as suas necessidades!
 Que diríamos de uma noiva cuja vaidade e teimosia impedissem não só a realização de sua própria felicidade, mas também a daquele que lhe entregara seu coração?

Embora nunca esteja tranqüila em sua ausência, ela não consegue confiar plenamente nele; tampouco tem coragem de abrir mão de seu próprio nome, seus próprios direitos e propriedades, sua própria vontade – mesmo em favor da pessoa que reconhece ser indispensável para sua felicidade. Ela gostaria muito de receber todo o seu amor e devoção, mas não consegue entregar-se inteiramente a ele; um, porém, é impossível sem o outro.
 Enquanto ela retiver seu próprio nome, jamais terá direito ao nome dele. Ela não poderá prometer amá-lo e honrá-lo sem, ao mesmo tempo, prometer obedecer-lhe. E, enquanto seu amor não chegar a esse ponto de total entrega e rendição, o seu amor será sempre um amor insatisfeito; jamais conseguirá achar descanso junto ao seu noivo como uma noiva satisfeita. Enquanto conservar sua vontade própria e o controle de suas próprias coisas, terá de contentar-se em viver de seus próprios recursos. Não terá direito aos recursos dele.
 Poderia haver uma prova mais lamentável da extensão e da dura realidade da queda da humanidade do que essa profunda e arraigada desconfiança em relação ao nosso amado Mestre e Senhor? É essa desconfiança que nos faz hesitar na hora de nos entregarmos completamente a ele, que nos faz temer que ele nos peça algo além de nossas forças ou exija de nós algo muito difícil de dar ou fazer. A verdadeira razão de uma vida insatisfeita pode, muitas vezes, ser encontrada na falta de render-se a Deus.
 Entretanto, como tudo isso é tolice e, ao mesmo tempo, um grande erro! Será que nos imaginamos mais sábios do que ele ou que nosso amor por nós mesmos é mais carinhoso e forte que o dele? Ou achamos que nos conhecemos melhor do que ele nos conhece? Como essa nossa desconfiança deve magoar e ferir novamente seu terno coração, ele que se tornou, por nossa causa, um homem de dores (Is 53.3)!
 Quais seriam os sentimentos de um noivo terreno, se descobrisse que sua noiva amada temia desposá-lo, com grandes receios de que usasse seu poder sobre ela para tornar sua vida insuportável? No entanto, não é exatamente assim que muitos remidos do Senhor o tratam! Não é de admirar que nunca estejam felizes ou satisfeitos!
 Mas o verdadeiro amor não fica estacionado; forçosamente, declinará ou crescerá. Apesar de todos os injustificados receios de nossos pobres corações, o amor divino é destinado à vitória. A amada exclama: “Suave é o aroma dos teus ungüentos, como ungüento derramado é o teu nome; por isso as donzelas te amam” (Ct 1.3).
 Não existia nenhum óleo como aquele com o qual o Sumo Sacerdote era ungido; e o nosso Noivo é um Sacerdote além de ser Rei. A tímida noiva não consegue desfazer-se totalmente de seus temores; apesar disso, a inquietação e a ansiedade tornaram-se insuportáveis, e ela decide render-se completamente e segui-lo, venha o que vier.

Ela lhe entregará o seu próprio ser, a mão e o coração, tudo que é e tudo o que possui. Nada pode ser mais insuportável que sua ausência! Se ele a levasse a outro monte Moriá (Gn 22.1-2) ou mesmo a um Calvário, ela o seguiria. “Leva-me tu, correremos após ti” (Ct 1.4).
 Mas oh! o que vem depois? Oh, que maravilhosa surpresa! Não é o Moriá, nem o Calvário; pelo contrário, é o próprio Rei! Quando o coração se entrega, Jesus reina. E quando Jesus reina, há descanso. E para onde levará ele sua noiva? “O Rei me introduziu nas suas recâmaras” (Ct 1.4). Não foi primeiro para a sala do banquete – isso virá na hora certa (Ct 2.4) – mas antes para ficar a sós com ele mesmo.
 Que perfeição! Algum noivo ficaria satisfeito em encontrar sua amada somente em um lugar público? Não, ele há de querer ficar a sós com sua noiva – ter a atenção dela todinha só para si mesmo. E assim ocorre com nosso Mestre: ele toma pela mão aquela que agora é sua esposa, totalmente rendida, e a leva à parte para fruir as sagradas intimidades de seu maravilhoso amor.
 O Noivo da Igreja está ansioso para entrar em comunhão com seu povo, muito mais do que este deseja estar com ele, e às vezes chega a clamar: “Mostra-me o teu rosto, faze-me ouvir a tua voz, porque a tua voz é doce, e o teu rosto amável” (Ct 2.14).
 Não é verdade que estamos mais ansiosos em vê-lo por nossas necessidades do que para dar a ele alegria e prazer? Mas não deveria ser assim. Nós não aprovamos crianças que só estão interessadas no que podem obter dos pais, e nunca pensam no prazer ou na ajuda que lhes podem proporcionar. Igualmente, não estamos nos esquecendo que agradar a Deus é dar-lhe prazer?
 Talvez as palavras “agradar a Deus”, para nós, significavam apenas não pecar contra ele, nem entristecê-lo; mas o amor dos pais terrenos ficaria satisfeito com a mera ausência da desobediência? Ou um noivo ficaria feliz se sua noiva só o procurasse para resolver suas próprias necessidades?
 Será oportuno, agora, dar uma palavra sobre as primeiras horas da manhã. Não há tempo mais bem aproveitado do que as primeiras horas do dia, quando as dedicamos somente a Jesus. Estamos dando a devida atenção a esse tempo? Se for possível, resgate esse tempo, pois é insubstituível. É preciso tirar tempo para andarmos com Deus!
 Uma outra sugestão: quando levamos nossas questões a Deus, é comum passar rapidamente de um pedido a outro, ou sair do nosso tempo de oração, sem esperar uma resposta. Essa atitude não revela nossa pouca esperança, ou nosso pouco desejo de obter uma resposta? Será que gostaríamos que nos tratassem assim? Esperar, em silêncio, diante de Deus, evitaria muitos enganos e muitas tristezas.
 Vemos, então, como a noiva fez uma maravilhosa descoberta, como o primeiro fruto de sua entrega de si mesma: o Rei – seu Rei – e não uma cruz, como ela esperava. “Em ti nos regozijaremos e nos alegraremos; do teu amor nos lembraremos, mais do que do vinho; não é sem razão que te amam” (Ct 1.4).

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VIVENDO A VIDA QUE AGRADA A DEUS



Por Hannah Whitall Smith

Você é um filho de Deus, e deseja ardentemente agradá-Lo. Você ama seu divino Mestre, e está angustiado e cansado do pecado que O entristece. Você anseia por ser liberto do poder do pecado. Tudo que você tentou até aqui  para se livrar falhou, e agora, em seu desespero, você se pergunta se realmente é possível esta libertação, se o que essas pessoas felizes andam dizendo, que Jesus é capaz e desejoso de libertá-lo, é verdade.
Certamente que no íntimo da sua alma, você deve saber que isso é verdadeque salvá-lo das mãos de todos os seus inimigos é, de fato, a verdadeira causa de Jesus ter vindo. Então confie Nele. Confie-lhe sua causa sem reserva alguma, e creia que Ele Se encarregará dela, e logo a seguir, baseado no que Ele é e no que Ele disse, declare que está sendo salvo agora mesmo por Ele. Da mesma forma como você creu da primeira vez que Ele o libertou da culpa do pecado porque Ele o disse, da mesma forma creia que Ele o liberta do poder do pecado porque Ele assim diz.
Através da fé, tome posse agora mesmo de um novo poder em Cristo. Você creu Nele como o Salvador que morreu em seu lugar; creia Nele agora como seu Salvador que está vivo. Da mesma forma como Ele veio para livrá-lo do juizo futuro, também veio para livrar você do cativeiro atual. Assim como verdadeiramente Ele veio para ser açoitado em seu lugar, também veio para lhe dar Sua vida.
Tanto no primeiro quanto no segundo caso você é completamente impotente. É tão difícil se livrar dos seus pecados quanto alcançar agora a sua própria justiça prática. Cristo, e somente Cristo, pode fazer tanto uma como outra por você, e a sua parte em ambos os casos é simplesmente entregar-Lhe a situaçao, e crer que Ele fará o resto.

jueves, 7 de junio de 2012

Confissões Ministeriais



Por Horatius Bonar
Temos sido carnais e insensíveis espiritualmente. Por nos associarmos com muita freqüência e muita intimidade com o mundo, em grande medida acabamos nos acostumando com suas formas de agir. Como resultado, nossas percepções espirituais foram destruídas e nossas consciências calejadas. A tenra sensibilidade do nosso coração desapareceu e foi substituída por um grau de calosidade que antes nos achávamos incapazes de possuir.
Temos sido egoístas. Temos considerado preciosas nossas vidas e nosso conforto. Temos procurado agradar a nós mesmos. Tornamo-nos materialistas e cobiçosos. Não nos temos apresentado a Deus como “sacrifícios vivos”, dispondo de nós mesmos, do nosso tempo, da nossa força, das nossas faculdades e do nosso tudo sobre seu altar… assim como Jesus, que não agradou a si mesmo.
Temos sido indolentes. Não temos procurado ajuntar os fragmentos do nosso tempo, a fim de que nenhum momento fosse desperdiçado inutilmente. Preciosas horas e dias foram gastos sem propósito em conversas e prazeres fúteis, quando poderiam ser usados na oração, no estudo ou na pregação! Indolência, auto-satisfação e indulgência da carne estão corroendo nosso ministério qual tumor canceroso, impedindo a bênção e maculando nosso testemunho.
Temos sido apáticos. Mesmo na nossa diligência, quão pouco calor e brilho! Não derramamos toda nossa alma na nossa atividade, o que deixa tantas vezes a impressão de mera forma e rotina. Não falamos nem agimos como pessoas intensas. Nossas palavras são débeis, mesmo quando verdadeiras e fundamentadas. Nossas expressões são indiferentes, mesmo quando as palavras são carregadas de significado. Falta amor – amor que é forte como a morte; amor como aquele que fez Jeremias chorar em lugares secretos.
Temos sido tímidos. O temor nos tem levado muitas vezes a generalizar verdades, que se fossem declaradas especificamente, com certeza teriam trazido ódio e opróbrio sobre nós. Quantas vezes deixamos de declarar ao nosso povo todo o conselho de Deus. Temos nos retraído de reprovar, repreender e exortar com toda paciência e verdade. Tivemos medo de alienar amigos ou despertar a ira de inimigos.
Temos faltado em sobriedade. Como deveríamos nos sentir profundamente abatidos por causa da nossa leviandade, frivoleza, irreverência, alegria superficial, conversas vãs e brincadeiras, pelas quais sérios prejuízos foram causados a outros, o progresso dos santos retardado e a miserável inutilidade do mundo reforçada.
Temos pregado a nós mesmos e não a Cristo. Temos buscado aplausos, cortejado a honra, sido solícitos com a fama e enciumados por causa da reputação. Por muitas vezes, temos pregado visando atrair a atenção das pessoas para nós mesmos, ao invés de conduzi-las a Jesus e à sua cruz. Cristo não tem sido o Alfa e o Ômega, o princípio e o fim, de todos os nossos sermões.
Não temos estudado e honrado devidamente a Palavra de Deus. Temos dado proeminência maior aos escritos dos homens, às opiniões dos homens e aos sistemas humanos nos nossos estudos e meditações. Temos mantido mais comunhão com o homem do que com Deus. Precisamos estudar mais a Bíblia. Precisamos imergir nossas almas nela. Precisamos não só fazer um depósito dela dentro de nós, mas transfundi-la através de toda a textura do nosso interior. O estudo da verdade mais na forma acadêmica do que na devocional a tem roubado de seu vigor e da sua vida, gerando no seu lugar frieza e formalidade.
Não temos sido pessoas de oração. Temos permitido que negócios, estudos e atividades interfiram com nossas horas a sós com o Senhor. Uma atmosfera febril tem invadido nosso tempo devocional, perturbando a doce calma da bendita solitude. Sono, conversas fúteis, visitas sem propósito, brincadeiras, leituras sem conteúdo e ocupações inúteis preenchem tempo que poderia ser redimido e dedicado à oração. Por que há tanto palavrório e tão pouca oração? Por que tanta agitação e correria e tão pouca oração? Por que tantas reuniões com nossos próximos, e tão poucos encontros com Deus? É a falta destas horas solitárias que tornam nossas vidas impotentes, nosso trabalho improdutivo e nosso ministério débil e infrutífero.
Não temos honrado o Espírito Santo. Não temos procurado sua unção no estudo da Palavra nem na pregação. Temos entristecido-o, desvalorizando seu papel como Mestre, Consolador, Santificador e o único capaz de convencer do pecado ou da verdade. Por isso, por pouco ele tem se afastado de nós, deixando-nos colher o fruto da nossa própria perversidade e incredulidade.
Temos sido incrédulos. É a incredulidade que nos torna tão frios na pregação, tão indispostos para visitar e tão negligentes em todos os nossos deveres sagrados. É a incredulidade que congela nossa vida e endurece nosso coração. É a incredulidade que nos leva a lidar com realidades eternas com tanta irreverência. É a incredulidade que nos permite subir ao púlpito com passos tão leves, quando ali iremos tratar com seres imortais sobre assuntos referentes ao céu e ao inferno.
Precisamos de pessoas que se disponham e que se derramem; que se doem e que orem; que vigiem e chorem pelas vidas perdidas.